Raízes e Horizontes

Investimento em desprendimento

O investidor que sabe o risco, mas escolhe acreditar

Imagem gerada por IA
Investimento em desprendimento Colabore com nosso ecossistema: pix@tribuna.com.br

Em algum momento da jornada, o grupo que lidera o nascimento de um ecossistema percebe um fato incontornável: a travessia inicial custa caro. Há que se garantir um terreno, um armazém, uma estufa, um laboratório, uma pequena fábrica, um centro de treinamento. Há que se manter técnicos, engenheiros, professores, administradores. Há que se sustentar a fase em que tudo é despesa e quase nada é receita.

E nesse momento, inevitavelmente, surge a pergunta que separa o sonho da realidade:

Quem vai pagar o período em que ainda não há o que receber?

E por que alguém faria isso?

O investidor que entra nessa fase não é ingênuo. Ele sabe que corre o risco de perder. Sabe que está lançando dinheiro em solo que ainda não provou sua fertilidade. Mas também sabe que é exatamente assim que nascem as coisas grandes — na borda do desconhecido, no ponto em que a racionalidade tradicional hesita e a coragem responsável decide avançar.

Esse investidor — seja uma empresa, uma família, um fundo, uma fundação, um empreendedor maduro ou alguém que simplesmente decidiu apostar na inteligência de um território — entra sabendo que o ganho não é garantido. Ele aceita que pode perder. Mas entende que mesmo perdendo, valeu a pena participar, porque não existe derrota quando se contribui para criar uma economia nova, resiliente, produtiva, que lança raízes para multiplicar riqueza onde antes havia apenas potencial.

Esse é o espírito da venture philanthropy — mas também é, em essência, o espírito de qualquer sociedade que alcançou maturidade econômica: investir não apenas no que já está pronto, mas no que ainda está nascendo. A pessoa que financia a largada de um ecossistema não quer aplausos nem monumentos. Ela quer, acima de tudo, que o tempo revele que sua confiança foi bem colocada. E sabe que, quando um ecossistema se acerta, o retorno coletivo é tão grande que os retornos financeiros inevitavelmente aparecem — muitas vezes bem acima do que qualquer produto de prateleira conseguiria oferecer.

Esse investidor se torna parte da roda que ajuda a girar. Ele não empurra sozinho, mas seu impulso inicial muitas vezes é o que impede o país de permanecer imóvel. E, quando as engrenagens finalmente se encaixam, todos — inclusive ele — colhem mais do que imaginaram.

Pedir a alguém que invista sabendo que pode perder não é pedir heroísmo.

É pedir visão.

É pedir maturidade.

É pedir que compreenda que, no longo prazo, nada rende mais do que um território que despertou.




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