Marcio Minguta
Nova Ordem Mundial: Começa com B de Brasil e se chama BRICS
Há um novo mapa geopolítico sendo desenhado diante de nossos olhos. Ele não é imposto pelas potências tradicionais, nem pela força das armas ou pela imposição de sanções. Ele é moldado pelo peso econômico, pela diplomacia multilateral e pela urgência de um mundo mais justo. E seu ponto de partida é o Sul Global — com B de Brasil, e nome de BRICS.
O grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, recentemente expandido com novos membros estratégicos, representa hoje mais de 37% do PIB mundial e cerca de 45% da população do planeta. Não se trata mais de uma aliança emergente, mas de um novo polo de poder consolidado, que propõe alternativas concretas à ordem ocidental construída ao longo do século XX — uma ordem que está ruindo sob seu próprio peso, desigualdade e contradições.
Entretanto, há vozes internas no Brasil que se opõem a esse novo horizonte. Um setor conservador, preso a paradigmas da Guerra Fria e a uma visão centenária da economia, teme a ruptura com o status quo. Para esses atores — muitos ligados a think tanks, fundações, interesses financeiros e órgãos de política externa norte-americanos e europeus — o crescimento do BRICS não é visto como oportunidade, mas como ameaça. Temem perder os privilégios adquiridos por décadas de alinhamento automático com Washington e Bruxelas. Recusam-se a aceitar que o mundo mudou — e mudou para não voltar atrás.
O medo que demonstram é o mesmo que paralisou civilizações diante da expansão marítima no século XV. Quando os primeiros navegadores cruzaram o oceano rumo ao desconhecido, também enfrentaram dúvidas, resistência e preconceitos. Mas o futuro não foi construído pelos que temeram zarpar, e sim pelos que ousaram enxergar novos mundos.
Hoje, os Estados Unidos, representados por figuras como Donald Trump, reagem com agressividade à ascensão do Sul Global. Tentam enfraquecer a coesão dos BRICS, desacreditar suas lideranças e impor sua narrativa. Mas é tarde demais. O próprio coração econômico norte-americano está abalado por décadas de desindustrialização, perda de competitividade e dependência de um modelo financeiro concentrador. Sua hegemonia foi corroída — não pelo BRICS, mas por suas próprias escolhas.
O mundo pede outra coisa. Pede soberania compartilhada, multipolaridade real, comércio justo, respeito à autodeterminação e uma nova arquitetura financeira internacional. É isso que os BRICS propõem. E é isso que o Brasil tem a oportunidade — e a responsabilidade histórica — de liderar.
Não podemos ser reféns do medo. Este é o momento de navegar, não de ancorar. O futuro está além do Atlântico e do Pacífico, nos corredores do BRICS, nas parcerias com a África, com a Ásia, com a América Latina que também quer voz. Rejeitar isso por nostalgia de uma ordem em colapso é abrir mão do protagonismo que já nos cabe.
A nova ordem mundial começou. E ela fala português.



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