Marcio Minguta

Pátria ao Alto

Quando a soberania vale mais que o “patriotismo”


Pátria ao Alto

Nos últimos dias, o Brasil foi arrastado para o centro de uma tempestade político-diplomática vergonhosa, não por ação de inimigos externos, mas por declarações e atitudes de um deputado federal que carrega no sobrenome o peso — e o ônus — de um clã político que, mesmo fora do poder formal, segue manobrando nos bastidores com impressionante imprudência.

Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, cruzou linhas que não podem ser ignoradas: defendeu publicamente ações hostis dos Estados Unidos contra o Brasil — entre elas, a absurda ideia de lançar uma bomba atômica no país, uma alegoria destrutiva, irresponsável e criminosa, mesmo que dita em tom de provocação. Mais do que retórica delirante, o ato revela a disposição de um parlamentar eleito pelo povo brasileiro em endossar, e até incentivar, atos de agressão militar por uma potência estrangeira contra seu próprio país.

Pior: há indícios de que o parlamentar tenha articulado — ou ao menos estimulado — junto a membros do governo norte-americano uma política econômica agressiva contra o Brasil, como a recente tarifa de 50% imposta por Donald Trump, uma medida que afeta diretamente o Agro e a indústria nacional e favorece as políticas protecionistas dos EUA. Que tipo de representante age contra os interesses da própria nação em fóruns internacionais?

Essa atuação não é apenas moralmente condenável — ela encontra limites explícitos no Código Penal brasileiro. A Lei nº 14.197, de 1º de setembro de 2021, sancionada pelo próprio Jair Bolsonaro, atualizou os crimes contra o Estado Democrático de Direito. No artigo 359-I, lê-se: "Negociar com governo ou grupo estrangeiro, ou seus agentes, com o fim de provocar atos típicos de guerra contra o País ou invadi-lo: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos." A ironia histórica é contundente: a espada legal que agora paira sobre Eduardo Bolsonaro foi forjada pelas mãos de seu próprio pai.

Jair Bolsonaro, por sua vez, enfrenta múltiplas investigações por conspiração, tentativa de golpe e uso da máquina pública para fins eleitorais e autoritários. Sua paranoia com uma insurreição da esquerda tornou-se uma profecia autorrealizável — mas com ele e seus aliados no papel de traidores da soberania, não de defensores da ordem.

Há décadas, o Brasil busca consolidar sua soberania diante das grandes potências mundiais. Em fóruns multilaterais, na defesa da Amazônia, na luta por uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU, em acordos bilaterais que garantam independência tecnológica e energética — todo esse esforço é minado quando figuras públicas com mandato legitimado democraticamente agem como corretores de interesses estrangeiros.

É preciso que as instituições brasileiras se levantem com firmeza. Que a Câmara dos Deputados investigue com seriedade as ações de Eduardo Bolsonaro. Que o Ministério Público Federal avalie se houve crime de atentado à soberania. Que o Itamaraty reforce seu papel como guardião da dignidade nacional e que o povo brasileiro, em sua pluralidade ideológica, compreenda que não se trata de direita ou esquerda, mas de lealdade ao país.

Não há patriotismo na subserviência. Não há liberdade no entreguismo. E não há defesa da nação no ato de aplaudir um porta-aviões estrangeiro em águas nacionais ou em desejar bombas em solo pátrio. O Brasil não é colônia, não é satélite e não é playground para os delírios de grandeza de um grupo que perdeu o poder, mas insiste em sabotá-lo desde dentro.

É hora de discernimento. O país precisa escolher entre o caminho da reconstrução democrática ou o abismo da autossabotagem política e diplomática. Que a história julgue. Mas que a Justiça aja antes que seja tarde.



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