Imagem gerada por IA O fim da atual concessão da Malha Sul, previsto para 2027, coloca novamente o Rio Grande do Sul no centro da logística nacional. São mais de 7,2 mil quilômetros de trilhos que, uma vez modernizados e reativados, podem conectar o Brasil não apenas ao Atlântico, mas também ao Pacífico chileno, passando pelos portos do Uruguai.
Essa travessia não pode ser pensada apenas como transporte de cargas. É a oportunidade de implantar um novo modelo de desenvolvimento: ferrovias que também funcionam como corredores ambientais e digitais.
A LÓGICA DAS FÁBRICAS DE ÁGUA
Ao longo das faixas de domínio ferroviário — áreas de 30 a 60 metros de largura — abre-se a possibilidade de criar corredores lineares de reflorestamento. Em escala nacional, isso significaria até 360 mil hectares restaurados, sequestrando cerca de 2 milhões de toneladas de CO₂ por ano e, sobretudo, produzindo o bem mais escasso do século: água.
Essas áreas funcionariam como fábricas de água, recompondo lençóis freáticos, reduzindo erosão e aumentando a resiliência climática. O conceito já foi comprovado em programas como o Produtor de Água da Agência Nacional de Águas e o Conservador das Águas de Extrema (MG).
REGULAÇÃO E SUSTENTABILIDADE
É nesse ponto que entra o papel do Instituto ÍRIS, criado pelo ex-ministro Marcelo Cunha e Felipe Cunha, ex-diretor da ANA. Sua atuação une a experiência em regulação hídrica, a formulação de políticas de sustentabilidade e a capacidade de estruturar fundos ambientais.
O desafio logístico não pode prescindir dessa visão. O que se discute hoje é a relicitação de ferrovias, mas o que está em jogo é a oportunidade de acoplar à malha ferroviária um sistema de governança hídrica e climática. O ÍRIS tem condições de fornecer métricas, protocolos e instrumentos para que cada quilômetro de trilho seja também um quilômetro de regeneração.
O SUBTERRÂNEO DIGITAL
Sob os trilhos, corre outro vetor de transformação. A implantação de cabos de fibra óptica ao longo das ferrovias pode formar o backbone digital do país. Com investimento estimado em US$ 1,5 bilhão, seria possível lançar 30 mil quilômetros de fibra, transformando cada estação em um hub digital.
A experiência indiana da RailTel, que conectou mais de seis mil gares com Wi-Fi, mostra a viabilidade desse modelo. No Brasil, os “bairros digitais” poderiam surgir nas estações ferroviárias, irradiando conectividade, telemedicina, educação a distância e serviços públicos.
QUANTO CUSTA E QUANTO RENDE
O orçamento desse novo Brasil pode ser dimensionado. A modernização e expansão da malha exigiriam cerca de R$ 300 bilhões em trilhos, mais US$ 1,5 bilhão em fibra óptica e até US$ 540 milhões em corredores verdes.
O cronograma é factível em quatro fases, ao longo de 10 a 15 anos:
1- Reativação de trechos críticos no Sul, com pilotos de reflorestamento e fibra.
2- Integração aos grandes eixos nacionais como a Norte–Sul, FIOL e FICO.
3- Expansão regional, com hubs digitais em até 500 gares
4- Conexões bioceânicas com o Uruguai e o Chile.
As possíveis fontes de financiamento incluem debêntures de infraestrutura, linhas verdes do BNDES, fundos de água e parcerias público-privadas.
PIB MAIS VERDE E MAIS DIGITAL
O Banco Mundial calcula que o Brasil precisa investir 2% do PIB ao ano em transporte para fechar o gap logístico. Hoje investe menos de 0,5%. O programa ferroviário verde e digital representaria de 0,3% do PIB ao ano, podendo chegar a 1% ou 1,5% com alavancagem via mercado de capitais.
Isso significaria ganhos diretos de até 1,6 ponto percentual no PIB durante o pico das obras e efeitos permanentes de 0,3 a 0,6 ponto percentual de crescimento adicional ao ano, pela maior produtividade. A redução do custo logístico, que hoje consome 12% do PIB, para níveis próximos aos 9% dos Estados Unidos, liberaria dezenas de bilhões de reais anuais.
TRILHOS QUE UNEM ÁGUA, CARGA E DADOS
O Rio Grande do Sul é o ponto de partida, mas o projeto é nacional. Do Sul ao Norte, passando pelo Centro-Oeste e pelo Nordeste, o Brasil pode erguer uma malha que transporta mercadorias, mas também regenera terras, produz água e conecta pessoas.
O Instituto ÍRIS simboliza a ponte entre esses mundos: logística, regulação hídrica e sustentabilidade. Sem essa integração, continuaremos presos ao modelo do passado. Com ela, poderemos construir um novo PIB brasileiro, verde, digital e bioceânico.
Ao lado das ferrovias regenerativas e da fibra subterrânea, a comunicação social é o terceiro pilar dessa estratégia. Porque não basta transportar soja, aço ou contêineres. É preciso transportar ideias, análises, consciência crítica.
Assim como os trilhos podem cruzar sertões e florestas, a informação livre e crítica pode costurar as diferenças e dar coesão a um país continental.
Com mais de 75 anos de história, marcada pela coragem de Carlos Lacerda e Hélio Fernandes, a TRIBUNA DA IMPRENSA se reposiciona para este século XXI como canal integrador de ecossistemas produtivos e democráticos, pronta para ser parceira dessa travessia, amplificando vozes e difundindo conteúdos saudáveis nos bairros digitais que nascerão às margens dos trilhos.




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