Gui Almeida
Hoje não.
A meta que lute.
Se tem dias que levantar da cama já é um esforço descomunal, imagine então ter que tirar forças do “deixa pra lá”, vestir o uniforme da simpatia, colocar o sorriso no rosto e usar todo o seu carisma para encantar um cliente, fechar novos negócios e ainda bater a meta. Foco na meta. Sempre ela. A meta que não descansa, não espera e não entende cansaço.
A internet está transbordando de positividade tóxica. As timelines estão cheias de frases motivacionais sobre “dar o seu melhor todos os dias”, “vencer a si mesmo” e “levantar com gratidão”. As reuniões comerciais mais parecem palestras de coach — todos empolgados, falando sobre performance, resultado e superação. Mas, na prática, a realidade é bem mais complexa do que parece nos slides de PowerPoint.
Para onde quer que olhemos, sentimos o peso da expectativa do mundo despejada sobre nossos ombros. O próprio cliente, às vezes, já vem esperando um verdadeiro espetáculo de atendimento. Como se o vendedor precisasse estar sempre num palco, pronto para surpreender, encantar, superar. E quando isso não acontece, vem a culpa, o medo de não estar entregando, de não estar sendo “o suficiente”.
Mas ninguém lembra de dizer o óbvio: o vendedor não é uma máquina. E não tem nada de errado em ter dias ruins. Não tem nada de errado em acordar sem energia, sem entusiasmo, sem vontade de sorrir para estranhos. Isso não te faz menos profissional, nem menos capaz.
Está tudo bem não estar bem. Está tudo bem não querer ser inspiração o tempo todo. Às vezes, você só quer passar o dia com o mínimo de esforço emocional possível. E isso é legítimo. Isso é humano.
Respeitar seus próprios limites é também uma forma de ser profissional. Porque a longo prazo, o que realmente sustenta uma carreira não é a empolgação constante — é a consistência, a inteligência emocional e o cuidado com a própria saúde mental. Vendedor bom não é o que nunca falha. É o que se conhece, que sabe quando acelerar e quando pisar no freio.
E se hoje você não bateu meta, não encantou ninguém, não brilhou como queria — tudo bem. Nem todo dia precisa ser épico. Alguns dias só precisam passar. E quando passam, abrem espaço para outros dias, talvez melhores, talvez não. Mas que você também vai saber viver.
Porque ser vendedor é, acima de tudo, ser humano. E todo humano precisa de um respiro de vez em quando. Não acha?



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