Jose Carlos de Assis

Empresários resistem à retaliação nas tarifas de Trump insistindo em negociações inúteis


Empresários resistem à retaliação nas tarifas de Trump insistindo em negociações inúteis

J. Carlos de Assis

Minha primeira tese das dez que prometi abordar numa série sobre as ameaças que pairam sobre o Brasil e o mundo, sob a bandeira fascista e cabotina de Donald Trump, refere-se ao histórico belicista do imperialismo norte-americano. Na essência, quando se trata de relações internacionais, não há fronteira entre Partido Republicano e Partido Democrata. Ambos são intervencionistas, e diferem apenas em grau.

Sob Barack Obama, e conduzidas pela “doce” esposa de Bill Clinton, Hillary, na condição de chefe do Departamento de Estado, os Estados Unidos espalharam por várias partes do mundo, da Síria à Ucrânia, e até à Líbia, as chamadas  guerras híbridas, ou “revoluções coloridas”. Visavam a derrubar governos em geral simpáticos à Rússia. No Brasil ficou comprovado que a derrubada de Dilma Roussef se deveu à “audácia” de o País se juntar à Rússia e à China na criação do BRICS.

O arrogante Donald Trump, republicano, não é menos hostil à nossa integração no BRICS. Daí suas ameaças ao bloco, especialmente se ele tentar criar uma moeda comercial alternativa ao dólar. É preciso, pois,  colocar o País em alerta. O presidente norte-americano, atacando em duas frentes, a ideológica e a comercial, quer nos encurralar até a submissão completa a sua vontade imperial, em total violação de nossa soberania e às regras de convivência internacional pacífica.

Portanto, é fundamental que o Brasil encare de forma realista  a situação criada por Trump. As tentativas em curso do vice-presidente Alckmin de negociar as tarifas são, a meu ver, ilusórias. As tarifas são um instrumento ideológico que afeta a área comercial, mesmo que a alto custo para os próprios norte-americanos, mas não são um objetivo em si. O objetivo principal é ampliar as áreas do planeta dominadas pelo fascismo e reforçar a hegemonia claudicante de Washington no plano político.

Os empresários brasileiros têm que tomar consciência disso e se preparar para uma guerra de no mínimo quatro anos, se Lula, pelo dever de defender a soberania do País, tiver que adotar tarifas retaliatórias. Diante disso, não há alternativa a não ser se mobilizarem para inovar, incorporar tecnologia não norte-americana e ampliar sua produção para substituir produtos que hoje são importados de lá. Do contrário, morrerão de inanição, sobrevivendo na base de “comer” papéis no mercado financeiro.

O fato é que grande parte dos líderes da indústria brasileira, embora não de todo por culpa deles, mas especialmente da política fiscal e monetária contracionista que lhes tem sido imposta pelo Governo Lula, estavam dormindo em berço esplêndido, inovando e produzindo pouco, e migrando para o sistema financeiro especulativo como rentistas. Agora, se Lula retaliar as tarifas de Trump, terão que trabalhar duro ou desaparecem sem insumos essenciais que vêm do mercado dos Estados Unidos.

Tome-se o exemplo da Embraer: sua produção e exportação de aviões dependem fundamentalmente da importação de turbinas dos Estados Unidos. Se Trump, como ameaça, dobrar a tarifa de 50% que impôs ao Brasil, ele a elevará, no caso de retaliação nossa, para 100%, tornando inviável a importação de turbinas. Com isso, a Embraer não poderá produzir aviões a curto prazo. Por quê, depois de décadas em que está nesse mercado, ela não procurou diversificar suas fontes de suprimento ou não se empenhou em desenvolver tecnologia para produzir, ela própria, esse equipamento essencial para sua linha de montagem?  

Isso obviamente acontecerá em várias outras áreas. Como tem ficado explícito nas reuniões dos grandes exportadores com os governos federal e paulista, há entre os empresários uma tremenda resistência a que o Brasil retalie as tarifas de Trump. Insistem em negociações, sem perceber que a questão não se resolve pelo diálogo. É que uma parte quer impor à outra, sem muita conversa, uma condição inaceitável, a saber, uma anistia pessoal para Bolsonaro ou uma anistia geral para todos os golpistas que participaram dos eventos extremistas de 8 de janeiro.

A única alternativa que não implique rendição e violação da nossa soberania é promover um grande programa de substituição de importações a ser realizado a curto prazo. O Governo tem de chamar os líderes dos setores afetados diretamente pelo tarifaço, discutir com eles as possíveis opções quanto à busca de mercados alternativos de suprimento de insumos e,  em qualquer circunstância,  lhes garantir condições fiscais e monetárias favoráveis ao desenvolvimento tecnológico e à produção interna. Em suma, tem que virar de cabeça para baixo a política fiscal de orçamento equilibrado e a política monetária de juros estratosféricos que vêm estrangulando o País há mais de duas décadas.



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