Dr. Vitor Monteiro

Crônicas do Futebol Carioca

O futebol carioca: uma mistura de rivalidade e afeto, de enfrentamento e celebração

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Crônicas do Futebol Carioca Colabore com a manutenção da TRIBUNA DA IMPRENSA: pix@tribuna.com.br

O futebol tem dessas ironias que escapam da razão e se firmam no coração. No ano em que o Flamengo completa 130 anos aplica um sonoro 8 a 0 no Vitória, como se quisesse reforçar para o mundo inteiro que continua vivo, imenso e inesgotável. Para o torcedor rubro-negro, é festa, é orgulho, é celebração. Para mim, tricolor de coração, é também motivo de reflexão.


Ser Fluminense é viver de história, de tradição, de elegância em campo. É olhar para o rival da Gávea como misto de respeito e rivalidade que só o Fla-Flu proporciona. Mas eu não consigo olhar para os 130 anos do Flamengo apenas com o olhar do adversário. Existe, no fundo dessa relação, uma ligação afetiva impossível de apagar. Minha mãe, flamenguista apaixonada, foi uma das fundadoras da Raça Rubro-negra, meu padrinho de Loja.’., o Edmundo Santos Silva foi presidente do Flamengo, sem contar o ilustre Rodrigo Rocha, desta Tribuna da Imprensa, que também é flamenguista. Minha mãe viveu o Flamengo de dentro, ajudou a construir sua força nas arquibancadas, deu voz e corpo à paixão que move milhões. Quando lembro disso, percebo que uma parte da minha própria identidade como torcedor também se formou no calor daquela chama rubro-negra, mesmo que eu tenha escolhido vestiras três cores que traduzem tradição.


O 8 a 0 contra o Vitória, por exemplo, é daqueles resultados que fazem qualquer flamenguista sorrir de orelha a orelha. Eu, como tricolor, assisto com certa ironia, mas também com admiração: não é todo dia que se escreve uma goleada histórica dessas. E quando vejo a alegria estampada no rosto da minha mãe, entendo que o futebol é maior do que as cores que defendemos.


Dentro da minha casa, esse mosaico de paixões fica ainda mais completo: eu sou Fluminense, minha mãe é Flamengo raiz, e minha esposa é botafoguense. Cada clássico carioca é uma mesa dividida, uma mistura de provocações, risadas e rivalidades que, no fim das contas, nos une ainda mais. É como se o futebol fosse a língua secreta da família, aquele código que nos permite brigar sem brigar, disputarem nos afastar.


Por isso, ao pensar nesses 130 anos do Flamengo, eu não falo apenas do rival que tantas vezes enfrentei nas arquibancadas e nos debates de bar. Eu falo de herança, de memória e de convivência. Falo da minha mãe, que transformou paixão em bandeira. Alo daminha esposa, que insiste em acreditar no alvinegro como se fosse uma missão de fé. E falo de mim, que, mesmo tricolor, sei que a grandeza do meu clube também se mede pelo tamanho do adversário que tenho diante de mim.


O futebol carioca é isso: uma mistura de rivalidade e afeto, de enfrentamento celebração. E, quando o Flamengo faz 130 anos com um 8 a 0 na bagagem, só me resta reconhecer: o rival é gigante. Ainda bem. Afinal, sem ele, a minha própria história de torcedor não teria metade da graça.


Vitor Monteiro é servidor do Ministério Público Federal, colaborador da TRIBUNA DA IMPRENSA e tricolor de coração.



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