ROSE SCALCO
O veto e o triunfo de “Marginal Genet”: a vitória da arte sobre a censura
A nudez e a marginalidade que desafiaram o poder se transformam em arte que emociona e provoca no palco — próxima apresentação dia 27 de setembro, no Teatro Armando Gonzaga (RJ).
O palco, a nudez e uma história de resistência
O Rio de Janeiro ganha uma nova oportunidade de assistir a uma peça recentemente censurada. A obra, de autoria e direção de Francis Mayer, é inspirada em Diário de um Ladrão, de Jean Genet, e Saint Genet, de Jean-Paul Sartre — uma dose inegável de cultura para nossa cidade.
O espetáculo “Marginal Genet” já havia conquistado plateias lotadas e entusiasmadas em temporadas anteriores, sendo aclamado em Copacabana e Ipanema, no Rio de Janeiro, em São Paulo, na capital, e em diversas cidades de Minas Gerais. Em todas essas apresentações, recebeu total reconhecimento do público e da crítica, até sofrer o veto de sua exibição na cidade de Cruzeiro, no interior de São Paulo.
No palco, ganham vida os conflitos e a genialidade de Jean Genet, escritor francês marginal que transformou sua própria trajetória — de ladrão e presidiário a poeta e dramaturgo — em uma obra marcada pela transgressão, pelo desejo e pela crítica social.

O poder da arte de Genet
A montagem mergulha profundamente no universo do escritor, explorando sua juventude conturbada, a vida à margem da sociedade, seus amores e dilemas existenciais. Em estilo visceral, traz à tona nudez, volúpia e marginalidade, elementos centrais para compreender a arte de Genet.
O corpo nu, elemento vital da narrativa, não está no palco para chocar, mas para revelar a beleza e a dor da condição humana, em uma linguagem ao mesmo tempo poética e política. É um convite ao público para refletir sobre desejo, limites, moralidade e liberdade, desafiando tabus e certezas.
O paradoxo: censura e triunfo
Apesar do sucesso prévio, em pleno 2025, a prefeitura de Cruzeiro (SP) impediu a apresentação da peça, alegando que o conteúdo era “ousado e forte demais”. A decisão reacendeu debates sobre liberdade artística e os perigos da censura em tempos atuais.
O cancelamento ecoou como um ato explícito de censura. Ainda que informal, a medida privou o público local de uma experiência artística potente e transformadora, reforçando a importância do debate sobre o papel da arte na sociedade.
Paradoxalmente, o veto não silenciou “Marginal Genet” — pelo contrário, ampliou seu alcance e reforçou seu impacto, consolidando seu triunfo artístico e crítico. Como na própria vida de Genet, a arte encontrou suporte intelectual e resistência, transformando-se em arma contra a repressão.
Genet livre no palco
Seguindo o espírito da provocação, a peça ecoa a máxima rodriguiana: toda nudez será castigada. Mas, aqui, a nudez é libertação.
Com sessões lotadas, “Marginal Genet” mantém vivo no palco o espírito de Jean Genet — livre, marginal e nu, como sempre foi. Ele não pede licença: se desnuda, e convida o público a despir-se de preconceitos e certezas, celebrando com aplausos a vitória da arte sobre a censura.
A próxima apresentação de “Marginal Genet” será no sábado, 27 de setembro, às 20h, no Teatro Armando Gonzaga, em Marechal Hermes /RJ.
Os ingressos podem ser adquiridos na plataforma Eleven Tickets ou na bilheteria do teatro.
FICHA TÉCNICA:
Texto e Direção: Francis Mayer
Elenco:
Thiago Brugger
Fernando Braga
Vinícius Moizés
Yago Monteiro
Samuel Godois



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